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Foto: Arquivo CORREIO |
Pouca gente sabe, mas Antonio Carlos Magalhães, o ex-senador baiano que hoje completaria 98 anos se estivesse vivo, tinha uma paixão que fugia completamente da política: era um verdadeiro noveleiro. Amava as tramas da televisão, em especial a “novela das oito”, da TV Globo, e não perdia um capítulo. O detalhe curioso é que seu repertório novelesco não ficava restrito à sala de casa. ACM levava referências das novelas até para os palanques.
Um dos episódios mais saborosos dessa faceta aconteceu no início dos anos 2000, quando o líder político foi a Paramirim, no sudoeste da Bahia, ao lado do então governador César Borges e do senador Paulo Souto. No microfone, diante da plateia, resolveu apimentar o discurso misturando política e teledramaturgia.
Naquele período, o Brasil inteiro estava vidrado em O Clone, de Glória Perez, com a marroquina Jade (Giovanna Antonelli) e os gêmeos Diogo e Lucas (Murilo Benício). Foi aí que ACM, com seu jeito mordaz, disparou: “Enquanto nós estamos aqui com vocês, trabalhando, inaugurando obras, vocês sabem onde estão os deputados da oposição? No Marrocos! E sabem fazendo o quê? Foram assistir ao casamento da Jade”.
A anedota virou risada geral. Paulo Souto, ex-governador e companheiro de décadas de ACM, recorda o episódio até hoje com humor. “Ele falava que em comício ‘tem que ter frases de efeito e pancadas no adversários’”, diz. Assim, entre obras inauguradas e ironias afiadas, ACM provava que até a ficção podia ser convertida em arma política. Aliás, o improviso nos discursos era uma das marcas mais fortes de sua trajetória política, relembram amigos próximos.
O jornalista e amigo de ACM ao longo de 17 anos, Demóstenes Teixeira, lembra que, quando governador, Antonio Carlos era convidado para abrir inúmeros eventos e congressos, especialmente na área médica, que reuniam especialistas como cardiologistas, pediatras e ortopedistas. Nessas ocasiões, bastava dar uma rápida olhada na programação para construir um discurso de improviso.
"(ACM) impressionava a audiência. Tinha essa facilidade porque era bem informado, lia todas as seções de inúmeros jornais, diariamente"
(ACM) impressionava a audiência. Tinha essa facilidade porque era bem informado, lia todas as seções de inúmeros jornais, diariamente
Demóstenes Teixeira Jornalista
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BAHIA