Conheça a história da família Rigno, de Piatã (BA), na Chapada Diamantina, a única tetra campeã do Cup of Excellence, o oscar dos cafés especiais

 

 

 

 

Nos últimos anos, uma cidade de 20 mil habitantes na Chapada Diamantina, no Planalto Baiano, começou a ficar famosa mundo afora. Trata-se de Piatã, o município com a maior altitude de todo Nordeste, a 1.200 metros do nível do mar.

“Altitude facilita, mas não determina a qualidade, o que determina é a atitude dos produtores, que planejam a produção com foco em cafés especiais”, diz Fábio Lúcio Martins Neto, consultor agronômico da Agrobiota e cafeicultor em Piatã.
Este planejamento dos cafeicultores ganhou holofotes no último Cup of Excellence, o oscar dos cafés especiais. Dos 10 primeiros colocados, seis eram de Piatã. Mas nem sempre foi assim. Até os anos 2000, a maioria dos cafeicultores de arábica produziam café commodity, mas uma crise de preço os impulsionou a buscar uma forma de agregar valor ao produto.

“Nesta época, um grupo de pessoas foi para o café orgânico, o outro foi para os cafés especiais e isso se estendeu para toda Chapada Diamantina”, diz Neto.

Técnicas aprimoradas
Estes baianos começaram a aprimorar as técnicas de pós-colheita dos grãos “Entendemos que era preciso fazer uma secagem diferente. Adotamos uma espécie de estufa, cobrimos os terreiros tradicionais de café com piso de cimento com uma cobertura plástica e laterais abertas para a circulação de ar, porque no período da colheita tem uma chuvinha fina, que depreciava muito a qualidade dos cafés”, diz o consultor.

Posteriormente, foi adotado o processamento de café por via úmida, em que o grão é descascado. E alguns produtores também adotam terreiro suspenso, método em que a secagem é mais lenta e favorece a qualidade. “Algumas vezes, estes terreiros são dentro da estufa e têm dupla função: secagem e facilitar uma seleção, catação manual dos cafés secos”, explica Neto.

Antônio e Teresinha Rigno colecionam premiações com seus cafés- Foto: diMiranda Fotografia

A maioria dos produtores são pequenos, com cerca de cinco hectares. Um dos maiores e mais famoso é Antônio Rigno, que soma 80 hectares com as três propriedades da família. É o patriarca que toca as fazendas que conseguiram um feito inédito: são tetra campeões do Cup of Excellence no mundo, ou seja, os únicos a conquistar por quatro vezes o 1º lugar. Inclusive neste ano, com um café Catuaí 144, processamento natural, de 91,41 pontos que rendeu a estatueta para Antônio Rigno de Oliveira Filho.
E as premiações não param por aí. Teresinha Rigno, esposa do seu Antônio, acaba de conquistar o 2º lugar na categoria via úmida do Florada Premiada, concurso da 3Corações focado em mulheres cafeicultoras e a nora, Zora Yonara Macedo Lima de Oliveira, repetiu a 2ª colocação na via seca (café natural, que seca com a casca). A revelação foi feita durante a Semana Internacional do Café (SIC) 2022.

Consultoria para qualidade
A família Rigno foi uma das primeiras a focar na qualidade. No final dos anos 90, quando a cafeicultura estava “desacreditada” na região, seu Antônio contratou uma consultoria agronômica para melhorar a planta, porque o solo não é dos mais férteis, e investiu no pós-colheita com terreiro de cimento e estufas.

Além do microclima, com dias quentes e noites frias, o que implica numa maturação lenta dos grãos e, consequentemente, mais qualidade, o segredo de tanto reconhecido está na dedicação do patriarca. “Ele é um grande mentor, um autodidata, conhece muito o que está produzindo, tem feeling e se entrega, porque Piatã é muito pobre em provadores e em tecnologias para o cafezal”, diz a filha, Patrícia Pereira Oliveira Rosa.

Outro diferencial é a condução do cafezal. “Toda a colheita é manual e seletiva, toda a lavoura é preparada igualmente. Não separamos um talhão para concurso”, explica Patrícia. Hoje, seu Antônio é um grande exemplo na região e tem levado muitos jovens a voltar para o sítio de café da família, inspirados em sua trajetória.

Indicação Geográfica
A projeção de Piatã levou o Sebrae a provocar os cafeicultores da Chapada Diamantina a começar a de estruturar o processo para a conquista de uma Indicação Geográfica, selo dado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) que chancela que a localidade tem tradição e know-how na produção cafeeira.

“Foi feito um protocolo de colheita de cafés maduros, pegamos cafés de vários municípios e levamos para processar num único local, de numa única forma”, diz Neto. Na sequência, a Universidade Federal de Lavras (UFLA) fez uma avaliação e o resultado foi que todos os cafés apresentaram excelentes pontuações, excelentes resultados sensoriais, tanto quanto Piatã.
//G1 Bahia

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