Simone Batista com seu filho Arthur em sua casa, na favela Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Ela teve o benefício do Bolsa Família suspenso e não tem dinheiro para pegar o ônibus e ir ao centro da cidade recorrer da decisão/ Foto: Silvia Izquierdo
Quando Letícia Miranda trabalhava vendendo jornal na rua, ganhava cerca de R$
500 mensais, quantia exata para pagar o aluguel do pequeno apartamento que
dividia com o filho de 8 anos em um bairro pobre do Rio de Janeiro.
Depois de perder o emprego, há cerca de seis meses, em meio à pior crise econômica no Brasil em décadas, ela não teve alternativa senão mudar-se para um edifício abandonado onde já viviam centenas de pessoas.
Todos os seus bens em uma cama, uma geladeira, um fogão e algumas roupas que estão amontoados em um pequeno quarto que, como todos os outros do prédio, tem janelas sem vidros. Os moradores tomam banho em latões cheios de água e fazem o que podem para conviver com o mau cheiro dos montes de lixo e dos porcos que reviram os detritos no centro do imóvel. Letícia Miranda, 28 "Estou procurando emprego e fiz duas entrevistas, mas por enquanto nada", diz ela, vestida com a parte de cima de um biquíni, shorts e sandálias para enfrentar o calor. Avanço e retrocesso Entre 2004 e 2014, dezenas de milhões de brasileiros saíram da pobreza, e o país foi considerado um exemplo para o mundo. Os altos preços das matérias-primas e os recém-descobertos recursos do petróleo ajudaram a financiar programas sociais que puseram dinheiro no bolso dos mais pobres. Mas essa tendência se inverteu nos últimos dois anos por causa da recessão mais dura da história do Brasil e dos cortes nos programas sociais, o que indica que o país perdeu-se no caminho para eliminar desigualdades que remontam à época.
Desemprego e cortes em programas sociais
Segundo os economistas, o alto índice de desemprego e os cortes em programas
sociais poderão agravar os problemas. Em julho, o último mês para o qual há dados
disponíveis, o desemprego se aproximava de 13%, um aumento notável em
comparação com os 4% do final de 2004.
Filas de desempregados estendendo-se por quarteirões viraram uma cena comum
quando empresas anunciam que estão contratando. Quando uma universidade do
Rio ofereceu empregos de baixa qualificação com um salário mensal de R$ 1.260,
milhares de pessoas apareceram e muitas chegaram na véspera e esperaram
debaixo de chuva.
Ao mesmo tempo, as pressões para equilibrar as contas públicas e as políticas
conservadoras do presidente Michel Temer têm levado a cortes nos programas
sociais. Entre os afetados está o Bolsa Família, iniciativa à qual se atribui grande
parte da redução da pobreza durante a década de explosão econômica.
As receitas que não advêm do trabalho, incluindo benefícios sociais como o Bolsa
Família, representaram quase 60% da redução do número de pessoas que viviam
em extrema pobreza durante a década de ascensão, segundo Emmanuel Skoufias,
economista do Banco Mundial e um dos autores do relatório sobre os "novos
pobres" do Brasil.
(Uol)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do PORTAL INÚBIA.